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Foto do escritorMarnele Heuser

Os contos de fada e o amor idealizado

Era uma vez uma linda princesa. Mesmo cercada de muitos mimos, vivia na maior solidão. Os homens a desejavam. Mas, quem ousaria se aproximar? Afinal, uma princesa não poderia se envolver com qualquer um. Ela era exigente na avaliação dos pretendentes e todos tinham medo de ser rejeitados. Por esta razão jamais se aproximavam e ela, por considerar-se muito especial, em sua solidão, continuava a sonhar com o príncipe que nunca conseguia encontrar. O resultado foram anos de sofrimento e solidão. Uma vida inteira sem um companheiro e o reino sem herdeiros.


Nossos primeiros conceitos sobre amor, relacionamento, casamento e felicidade são  influenciados pelas histórias que lemos e os filmes a que assistimos. Embora não fiquemos sentados à espera que alguém venha experimentar sapatinhos de cristal, tendemos a sonhar com um grande amor, como se ele não precisasse ser conquistado, construído e mantido diariamente.


Atualmente os relacionamentos amorosos estão cada vez mais para um padrão de comportamento baseado no ter do que no ser. A entrega, a troca de experiências e a doação cedem espaço para pré-requisitos financeiros, estéticos e culturais. Seguir à risca determinados padrões, muitas vezes, traz mais dissabores do que alegrias.


Quando idealizamos o amor da nossa vida, criamos mentalmente um ser perfeito. Belo, gentil, educado, cúmplice, carinhoso, bem sucedido e sensível. À espera desse príncipe que nunca chega, acabamos nos relacionando com um colega de trabalho ou com um vizinho. Um homem de bom caráter, boa apresentação, atencioso, mas sem o glamour do príncipe encantado. Olhamos a nossa volta e percebemos que alguns amigos estão namorando, mas não se vê brilho nos olhos quando falam de suas namoradas. O que isso pode significar? Quem nunca ouviu a expressão: “enquanto o amor da minha vida não aparece, me divirto com as pessoas erradas”… Pessoas com potencial para serem ótimos parceiros amorosos, sem saber, andam na corda bamba. É preciso ter em mente que Cinderela e Príncipe Encantado são irreais. O sapo pode não ter um carro importado, um excelente salário, nem ser tão bonito, mas ser um par presente, dedicado, que se entrega de corpo e alma e ama incondicionalmente, mesmo conhecendo todos os nossos defeitos. É importante dar uma chance a si mesmo e ao outro para poder perceber que o parceiro ideal é aquele que traz à tona o melhor de nós.


A arquiteta Vanessa, 45 anos, solteira, alega que não tem sorte no amor. Mimada, filha única, estudou nos melhores colégios, domina cinco idiomas, morou em vários países e nunca engatou um namoro firme. Desde muito cedo o grau de exigências imposto pelos pais impossibilitava qualquer aproximação. O resultado decorrente da sua criação rígida transformou Vanessa numa mulher solitária. Ela se considera especial, culta, linda e confessa que está difícil de encontrar um parceiro à altura de suas inúmeras qualidades. Na terapia esta descobrindo que sempre viveu um falso conto de fadas. Quando o seu castelo de areia estava prestes a desmoronar, foi buscar ajuda.


É preciso rebaixar os critérios de escolha? De forma alguma, é necessário ter bom senso. Saber o que realmente é importante, como o caráter, valores morais, não admitir desrespeito, ser independente e aceitar a independência do outro, o respeito a individualidade de cada um.

O autoconhecimento é fundamental para conseguir identificar se realmente busca um amor ou não passa de carência. A carência sempre atrai relacionamentos insatisfatórios que nada acrescentam a não ser frustração e tristeza. Estar bem consigo é o primeiro passo para poder fazer e ser feliz.

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