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Os contos de fada e o amor idealizado

Era uma vez uma linda princesa. Mesmo cercada de muitos mimos, vivia na maior solidão. Os homens a desejavam. Mas, quem ousaria se aproximar? Afinal, uma princesa não poderia se envolver com qualquer um. Ela era exigente na avaliação dos pretendentes e todos tinham medo de ser rejeitados. Por esta razão jamais se aproximavam e ela, por considerar-se muito especial, em sua solidão, continuava a sonhar com o príncipe que nunca conseguia encontrar. O resultado foram anos de sofrimento e solidão. Uma vida inteira sem um companheiro e o reino sem herdeiros.

Nossos primeiros conceitos sobre amor, relacionamento, casamento e felicidade são  influenciados pelas histórias que lemos e os filmes a que assistimos. Embora não fiquemos sentados à espera que alguém venha experimentar sapatinhos de cristal, tendemos a sonhar com um grande amor, como se ele não precisasse ser conquistado, construído e mantido diariamente.

Atualmente os relacionamentos amorosos estão cada vez mais para um padrão de comportamento baseado no ter do que no ser. A entrega, a troca de experiências e a doação cedem espaço para pré-requisitos financeiros, estéticos e culturais. Seguir à risca determinados padrões, muitas vezes, traz mais dissabores do que alegrias.

Quando idealizamos o amor da nossa vida, criamos mentalmente um ser perfeito. Belo, gentil, educado, cúmplice, carinhoso, bem sucedido e sensível. À espera desse príncipe que nunca chega, acabamos nos relacionando com um colega de trabalho ou com um vizinho. Um homem de bom caráter, boa apresentação, atencioso, mas sem o glamour do príncipe encantado. Olhamos a nossa volta e percebemos que alguns amigos estão namorando, mas não se vê brilho nos olhos quando falam de suas namoradas. O que isso pode significar? Quem nunca ouviu a expressão: “enquanto o amor da minha vida não aparece, me divirto com as pessoas erradas”… Pessoas com potencial para serem ótimos parceiros amorosos, sem saber, andam na corda bamba. É preciso ter em mente que Cinderela e Príncipe Encantado são irreais. O sapo pode não ter um carro importado, um excelente salário, nem ser tão bonito, mas ser um par presente, dedicado, que se entrega de corpo e alma e ama incondicionalmente, mesmo conhecendo todos os nossos defeitos. É importante dar uma chance a si mesmo e ao outro para poder perceber que o parceiro ideal é aquele que traz à tona o melhor de nós.

A arquiteta Vanessa, 45 anos, solteira, alega que não tem sorte no amor. Mimada, filha única, estudou nos melhores colégios, domina cinco idiomas, morou em vários países e nunca engatou um namoro firme. Desde muito cedo o grau de exigências imposto pelos pais impossibilitava qualquer aproximação. O resultado decorrente da sua criação rígida transformou Vanessa numa mulher solitária. Ela se considera especial, culta, linda e confessa que está difícil de encontrar um parceiro à altura de suas inúmeras qualidades. Na terapia esta descobrindo que sempre viveu um falso conto de fadas. Quando o seu castelo de areia estava prestes a desmoronar, foi buscar ajuda.

É preciso rebaixar os critérios de escolha? De forma alguma, é necessário ter bom senso. Saber o que realmente é importante, como o caráter, valores morais, não admitir desrespeito, ser independente e aceitar a independência do outro, o respeito a individualidade de cada um.

O autoconhecimento é fundamental para conseguir identificar se realmente busca um amor ou não passa de carência. A carência sempre atrai relacionamentos insatisfatórios que nada acrescentam a não ser frustração e tristeza. Estar bem consigo é o primeiro passo para poder fazer e ser feliz.

 

A sofrida busca pela perfeição

Por trás do perfeccionismo se esconde a não-aceitação da condição humana: nós somos seres imperfeitos.

Você precisa se sair maravilhosamente bem em tudo o que faz e não admite cometer uma falha sequer. Você vive em função do corpo perfeito, da pessoa perfeita ou do emprego perfeito. Se isso for verdade, chegou a hora de mudar. Essa obsessão de acertar sempre pode ser, ironicamente, a sua ruína.

Andre, administrador de empresas, 37 anos, conta que o perfeccionismo de Luara o levou a sair de casa várias vezes, antes da separação definitiva. “Ela não admitia errar, vivia estressada e quase me enlouquecia. Acredito que a mulher busca a perfeição desde muito cedo. Enquanto os meninos não se importam se estão sujos e descabelados, as meninas já são vaidosas. Eles querem mais é se divertir fazendo muitos gols nas peladas de rua, enquanto elas já contam experiências e aprendizados em seus secretos diários. A Luara insistia em ver gordura na barriga mais “sarada” que já vi e, todo santo dia jurava ter encontrado celulite nas coxas perfeitas. A busca pela perfeição a deixava exaurida. O seu sistema nervoso constantemente entrava em colapso e acabou implodindo o nosso casamento. Confesso que ficava entristecido quando a via levar o desejo de acertar tão a ferro e fogo. Virou um vício. Bem que eu tentei convencê-la a procurar ajuda terapêutica, mas foi em vão. Na nossa casa tudo era impecavelmente organizado. A cobrança era com ela mesma, mas me sentia como um robô, eu não era autêntico, nada podia estar fora do lugar. Minha querida esposa se transformou numa mulher radical, impertinente, ansiosa e exageradamente perfeccionista. Não aguentei ver tanto sofrimento e tanta frustração. Saí de cena.”

O perfeccionismo é um transtorno de atitude cada vez mais comum na sociedade atual, competitiva e individualista. O perfeccionista costuma estabelecer padrões excessivamente altos, verdadeiras missões impossíveis, se culpa quando os objetivos não são alcançados e acaba perdendo a autoestima.

O perfeccionismo e a autocrítica andam lado a lado. É importante ser dono de um olho crítico. No entanto, exagerar apostando alto demais pode atrapalhar a carreira e a vida pessoal. Como temem não atingir seus objetivos, os maníacos por perfeição frequentemente  evitam correr riscos e empacam diante do novo. A ânsia de estar no topo pode, ironicamente, provocar a ruína.

Assim como pode ficar paralisado com a possibilidade de cometer erros, um maníaco por perfeição é capaz de atrasar um trabalho porque precisa checar tudo inúmeras vezes. Noites insones e pesadelos recorrentes.

Todos os excessos podem se manifestar em algum momento de nossas vidas. Na infância, quando os pais cobram excessivamente por resultados melhores. Há quem adquira os padrões super rígidos na escola, graças aos colegas que cruelmente o criticam. Na adolescência quando o primeiro paquera ironiza a falta de experiência. A pessoa passa a achar que, se for perfeita, ninguém irá mais rejeitá-la ou importuná-la.

Os superexigentes podem superar seus medos de fracassar. O primeiro passo é questionar se suas expectativas não são irreais. O segundo passo é perceber se também tem a oferecer aquilo que está exigindo.

Gente que cobra e exige demais costuma ficar surpresa quando descobre que os outros não compartilham os mesmos altos padrões.

Que tal ser mais generoso consigo mesmo e tentar manter a autocrítica desenfreada sob controle? E porque não se olhar no espelho com a admiração de estar vendo o conjunto, não tão perfeito, mas o mais próximo quanto poderia ser da perfeição e dar um belo sorriso. Um riso de paz, de trégua. Sim, ninguém mais, a não ser você mesmo, se cobra tanto. Os outros estão preocupados demais com suas próprias vidas.

O excesso de exigências tem se transformado numa barreira na hora de buscar o homem perfeito ou a mulher perfeita. Li que um homem estava à procura da mulher perfeita. Um amigo quis saber por que ele não estava mais com a bela loira. Ele simplesmente respondeu que ela também estava à procura do homem perfeito…

Na busca de um novo amor: você também tem a oferecer aquilo que gostaria de encontrar na outra pessoa?